Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Púbis

Púbis

Tens um mar encapelado e revolto
Nesse mundo em que me perco,
Nesse caminho donde não volto,
Nesse cume de profundezas.
Tens aí a tentação
De ir p’ra não voltar,
Suave colina
Que percorro com os lábios e com a mão
Em aventuras de encantar.
E tens aí teu tesouro,
Meu abismo voluntário.
Pagava por ele todo o ouro
Que custa comprar uma vida ao contrário.
E tens tango, e tens samba, e tens valsa,
E tens poesia de arrebatamento
E prosa espraiada e voluta.
Tens qualquer íman que me puxa
Com uma força mais que bruta.
E mora em ti
O centro do Universo,
Fonte de contas inimagináveis
Que não cabe num verso
O meneio das tuas coxas hábeis.

Dá-me esse centro,
Oferece-me teu vortex,
Chama-me para dentro,
Prende-me em teu calor.
E, depois, no halo do amor
Que acabámos de fazer,
Deixa-me acariciar sem pudor
A fonte do nosso prazer!

jpv


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E o povo, pá?!

Sorria, está a ser lixado!


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Diva de parede

Há papel de parede, jornais de parede, paredes meias e paredes inteiras. Antigamente fazia-se parede. Hoje, eu encontrei uma diva de parede.

Acho uma ternura certas figuras que os humanos fazem por causa do amor. Podemos dizer que o que nos move é o dinheiro, são os interesses, a ambição, mas nada nos arranca a expressão mais sã, mais íntima e mais profunda como o faz o amor.

Riscam-se paredes por muitas razões: mensagens políticas, gritos de revolta, reclamações e outras que tais, mas esta que encontrei hoje em Torres Novas é uma pérola do sentimento amoroso na sua mais genuína e portentosa expressão. Houve um rapaz que cortou a noite e arriscou ser visto para que pudesse colocar o seu sentir numa parede torrejana e fê-lo de forma genial: ou seja, na constatação, para ele óbvia, de que tinha sido ela a sua DIVA desde o COMEÇO! Mai nada!

Isto merecia ser divulgado. Rapei do telemóvel e fiz a boa acção do dia, tirei-lhe a fotografia!

Ei-la!


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Vá lá, pá!

Vá lá, pá!

Ó pá,
Chega-te para cá,
Aquece-me estes pés.
Não sejas má!
Traz-me esse corpo esguio
E aquece este tipo frio.

Ó pá,
Deixa-te de cenas
Traz o edredão de penas
E vem aquecer-me já.

Ó pá,
Mas afinal onde andas tu?
Na via digital ou na minha cama?
Vê lá se não termina a semana
Sem te acariciar o corpo nu.

És porreira, pá,
És mesmo à maneira!
Tão gentil e graciosa
Que me despertas a brincadeira
Em tarde, de Domingo, ociosa.
E enches-me de emoção
Na exacta proporção
De um sorriso…
Ou de teus seios
Bailando na minha mão!

Ó pá,
Veste uma tanguinha, pá,
Assim, a espicaçar-me a curiosidade
E a expor à luz do dia
A maravilha
Da tua sensual idade!
Vá lá, não sejas tímida
E faz-me um sorriso convidativo,
Como quem chama para
O baile dos corpos festivo.

E fechamos as cortinas,
Trancamos as portas,
Viramos ao contrário
O quadro de Jesus
E acendemos a luz!

Vá lá, pá!

jpv


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Quadras qualquer coisa

Quadras qualquer coisa

Há qualquer coisa
Entre ti e mim
Que me cheira a princípio
E me sabe a fim.

Há entre nós
Um imenso azul
Que banha meu Norte
E ilumina teu Sul.

Qualquer coisa indescritível
Traçada no mundo real
Em chão verdadeiro
Na fronteira do impossível.

E há um pulsar e uma ânsia
Que percorre o silêncio e o ar
Que une em vez de separar.
Um amor percorrendo distância.

jpv


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O Zorro

Se há uma coisa que pode esperar-se de mim, é que assumo frontal e tranquilamente aquilo que sou e penso. Vem isto a propósito de haver pessoas que têm determinados gostos mas não os assumem publicamente por via do que possam os outros pensar. Eu não sou assim. Se gosto do programa “Ídolos”, digo-o, se gosto do Benfica, digo-o, se gosto de Saramago, digo-o, se gosto de Pachelbel, digo-o.

Neste caso é preciso dizer que gosto de ver, quando posso, o programa “Ídolos”. Gosto do formato, do progressivo caminho de descoberta e evolução dos supostos talentos. Digo supostos porque alguns, a maioria, depois de serem muito bons desaparecem da face da Terra mais rápido do que apareceram.

Um dia destes estava a ver o programa e salta de lá um moço tranquilo e relaxado e canta uma canção que eu desconhecia e imediatamente adorei. Primeiro, pelos comentários, pareceu-me ser uma composição brasileira, mais tarde percebi que era portuguesa.

O curioso é que encontrei diversas interpretações, sendo a mais conhecida do Luís Represas, mas nenhuma das versões profissionais me agradou tanto como a do miúdo, mesmo sem tratamentos de som. Gosto desta verdade e desta genuinidade.

E gosto de partilhar. E é por isso que vos deixo a liberdade dos vossos próprios juízos. Aí fica a versão do mestre Represas e a do puto divertido que já teve o condão de me divertir!
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Letra: João Monge.
Música: João Gil.
Título: O Zorro.
Clip 1: interpretação de Luís Represas
Clip 2: interpretação de Gerson Batista

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O Mar a meus pés

O comandante na proa. O texto foi escrito exactamente ali. Sentadinho, claro.

Aqui andei ao banho no dia seguinte. Como o mar estava encapelado, bastou sentar-me e esperar que as ondas rebentassem e fizessem cascata por cima do rochedo. Emoções fortes a custo zero!
[No passado dia 3 de Outubro, a minha família resolveu oferecer-me como prenda de anos um fim-de-semana na praia. Assim para relaxar. Escrevi por lá umas coisitas incluindo o texto que transcrevo abaixo e que decidira não publicar porque me faltavam imagens apropriadas e porque gostava pouco dele… Sei lá, coisas de gente tonta. Acontece que os cunhadinhos, Luís e Sandra, acabaram de me oferecer um powerpoint do fim-de-semana onde estão algumas fotos que, a meu ver, caem que nem ginginhas no texto. Vai daí, enchi-me de coragem e passei-o do manuscrito para aqui… Pois então divirtam-se. PS: um obrigado sentido à Paula, ao Iago, à Sandra, ao Luís, ao rochedo, ao mar e à saladinha de polvo!]
Zambujeira, 3 de Outubro de 2010
O Comandante na Proa

É inglório procurar emoções fortes e intensas de forma artificial. Não conheço nada que cause tantas e tão maravilhosas sensações como a Natureza. E sem contra-indicações. Esqueçam as montanhas russas, o cinema, os jogos de computador, o futebol ao vivo, as drogas, o álcool. Esqueçam a velocidade automóvel, esqueçam os aviões e as motos. Esqueçam tudo e contemplem.
Há uns meses, escrevi neste espaço um texto sobre a Serra D’Aire e Candeeiros que se chamava “O Céu a meus pés”. Agora é a vez do mar. Numa das praias da Zambujeira há um rochedo enorme que começa na areia e entra pelo mar dentro. Com maré baixa acede-se facilmente. Com maré alta também, embora tenha de molhar-se os pés. Trepei o rochedo e caminhei mar adentro. O oceano está agitado e as ondas batem com vigor mas cá acima não chega nada a não ser uma suave brisa, alguns salpicos desfeitos em frescura e o som portentoso do mar. Aqui onde me sentei, mesmo no limite do rochedo, tenho as ondas rebentando-me por baixo dos pés, a luz do sol dota a imensa espuma do mar de um branco neve, tão intenso que até fere. E sinto-me senhor do Universo e, ao mesmo tempo, pequenino perante esta força e este poder. É uma sensação maravilhosa poder estar dentro do mar e observá-lo e acariciá-lo com o olhar sem nos molharmos nem recorrer a nenhum instrumento artificial.
O rochedo é afilado e faz-me lembrar algo que nunca vi: um imenso navio petrificado que agora é todo meu para comandar. Se eu morresse agora, aqui, por qualquer fantástico fenómeno, não precisavam levar-me para lado nenhum, pois não há lugar melhor para um comandante que a proa do seu navio de sentir.


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Telegraph Road

Then came the churches, then came the schools,
Then came the lawyers, then came the rules…


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O beijo mais doce

O beijo mais doce

O beijo mais doce
Não foi dado ainda.
O beijo mais doce
Mora nos teus lábios.

O beijo mais doce
Tarda em acontecer.
Hás-de pousar-mo na boca
Com o dia a entardecer.

E ficará no ar
Um aroma de ternura,
Que subjugará a minha vontade
À tua doçura.

Vem a estes lábios fugazes
Que te querem beijar,
Vem contar-lhes histórias
Do beijo que tens para dar.

jpv


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Lembrar

Lembrar é bom porque é reviver com perspectiva.
João Paulo Videira