Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Passada

Passada

Há qualquer coisa de incerto
Nesta passada,
Uma névoa de futuro.
Mas quero acreditar
Que pode construir-se um rumo
Mesmo que o passo seja inseguro.
Não temo a desilusão
Nem o Fracasso
Temo só pela revelação
Deste meu incerto passo.

Quero ancorar-me nas convicções,
Quero dar o que tenho e posso,
Quero que o fundamento das minhas ilusões
Seja a humildade do meu passo.
E farei.
Farei bem feito e com defeito.
Mas que haja a certeza
No caminho que se trilhou
Que não vive em mim
O português que se negou.

jpv


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Agradecimento

Durante o processo de produção de “De Negro Vestida” foi necessário fazer uma pequena investigação no terreno, nomeadamente, por razões que entenderão em capítulos futuros, saber como funciona uma agência funerária e como uma mulher encara esse tipo de trabalho.
Aqui fica a expressão da minha gratidão a Conceição Conde, uma senhora de grande simplicidade mas também de grande coragem, sensibilidade eJustificar completamente capacidade de trabalho. É proprietária da Funerária Conde, no Entroncamento, e quando me viu entrar pela loja dentro a fazer perguntas sobre o seu negócio por causa de um romance, em vez de me chamar maluco e pôr na rua, recebeu-me com simpatia e conversou comigo sobre tudo o que lhe pedi, mesmo sobre alguns assuntos mais duros. Não só fiquei a conhecer um mundo que desconhecia, como me apercebi de algumas das suas adversidades, dos problemas que podem surgir e sobretudo, da importância deste trabalho e da coragem que exige.
Estas são as pessoas que têm o ingrato mas importantíssimo trabalho de cuidar dos nossos entes queridos nas suas últimas horas connosco. A determinada altura, Conceição Conde disse a frase “Trato-os como se fossem vivos”. Perante esta honestidade e esta dedicação, resta-me dizer-lhe: Obrigado São!
João Paulo Videira


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Qualquer coisa está para acontecer

Não sei se acontecerá. Não sei quando acontecerá. Sei que este espectro da crise, de uma forte e severa crise, arrasta consigo outros cenários. Cenários de uma violência sem precedentes. Cenários de destruição, caos e morte, que são os ingredientes da “limpeza” que antecede o vôo da Fénix. Acredito que renasceremos mas temo. Temo por não saber o que nos espera entre o momento que vivemos e o dia de nos reerguermos.


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Boa Semana de trabalho

Diz-se que a perfeição não existe, mas, por vezes, há momentos que abalam as convicções de qualquer um. A moça que está no vídeo aqui por baixo, com essa aceitável, enfim, sofrível figura, chama-se Myleene Klass e é a mesmíssima que aqui à nossa direita interpreta ao piano a Tocata e Fuga. O que será que o criador colocou nela a lembrá-la da sua humanidade? Ai, rapaz… até se me arrepiam os artelhos!

Boa semana de trabalho, caros leitores e amigos. Esta vai ser das duras!


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De Negro Vestida – XLII

 

De Negro Vestida – VI

José dos Santos Silva criou muitas regras durante a sua vida e alterou-as quando mais lhe conveio e voltou a alterá-las e alardeou que as tinha respeitado rigorosamente. Tão rigorosamente como a mentira ou o adornar da verdade que sempre fizeram parte de si. Justiça lhe seja feita, até porque não é mau homem, uma regra houve que nunca alterou. José não suportou desde pequenino que lhe chamassem Zé. Primeiro, porque não gostava, depois, quando as palavras vieram a bailar-lhe na boca como cerejas envenenadas, porque sentia que se perdia uma qualquer dignidade com a amputação do nome. Construiu então a regra com a seguinte fórmula:
– Zé é a puta que te pariu, óvistes? Para ti, senhor José!
Foi sempre um inquieto. Incapaz de sossegar, de assentar, de receber ordens ou viver dependências. E tinha uma dificuldade tremenda em não ter razão.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Bom Domingo

Os mais velhos talvez se lembrem da expressão “Porque hoje é Domingo” que passava em certo programa televisivo. Vem a isto a propósito deste post. Não há nenhuma razão objectiva para este post, a não ser pedir-vos que descansem do stress, da crise, dos problemas, das compras, que olhem os outros com mais tolerância, que estejam com a família, que aproveitem o glorioso sol que nos visita. Acho que são sentimentos e gestos adequados a um dia que, precisamos, seja de efectivo descanso.

A música que vos deixo consegue fazer-me sentir assim. Tem poderes e efeitos mágicos, a música.

Bom Domingo!

Angela Gheorghiu – Casta Diva


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Os olhos da crise

Hoje enervaste-te de novo. Explodiste. E, como te disse, isso não te ajuda. E, depois, não deixa transparecer a tua verdadeira personalidade. A doçura. O sorriso. A simpatia que todos pressentimos que tens mas anda tão afastada. Quem te pode sensurar? A vida, por vezes, é muito dura. Sabes, a culpa é minha e da minha geração. Bem, talvez também um pouco das gerações anteriores. Mas, a verdade é que ainda devias estar a sair da adolescência, ainda devias andar a brincar aos namorados, e a vida já te exige que tomes conta de toda a família. Claro que um pai desempregado não ajuda, claro que uma mãe muito doente, tanto que não pode trabalhar, também não ajuda, claro que teres de sustentá-los mais ao teus, muitos, irmãos também não ajuda, claro que terem-te despedido por causa da crise também não ajuda, mas precisas acreditar, precisas sorrir, precisas deixar crescer em ti coisas boas. És tão nova ainda. Tanta vida te vai sorrir ainda!

Hoje fiquei triste com o teu sofrimento. Sofri contigo. Vi-te a crise nos olhos. Não a dos gráficos. A verdadeira. Quase me pareceu despropositado pedir-te que fosses menos agressiva com os teus companheiros, mas, acredita, tudo correrá melhor quando soltares e semeares as coisas boas que há em ti. Queria tanto ajudar-te e sinto-me tão impotente. Em nome do conforto e do conceito de ter, andamos a sacrificar jovens, famílias, padrões e depois as pessoas suaves e doces como tu ficam agressivas. Não é justo. Será que os senhores de fato que discutem percentagens e estratégias e cortes e planos sabem que a tua vida, a tua dor, o teu sofrimento, a doença da tua mãe, o teu desemprego, o facto de sustentares uma casa com a adolescência ainda na face, sabem que tu não podes ser um fragmento de uma percentagem? Será que sabem que és gente? Será que sabem que a crise se materializa em ti? E em todos os que possam estar como tu?
Espero que me tenhas ouvido. Espero que encontres força e fé para acreditar. Desejo-te o melhor do mundo. Desejo-te que um dia o mundo seja teu. Desejo-te que preserves a tua família. Desejo-te que um dia vivas numa sociedade em que possas ser o que és e não o que reages.
Não sabia bem como despedir-me de ti neste texto que provavelmente nunca vais ler, mas lembrei-me de uma expressão simples que as pessoas da tua idade usam muito e considerei-a a mais adequada. Por isso cá vai: “Fica bem!”


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Oculto

Oculto

É no gesto que escondes,
É nas palavras que não dizes,
Nos olhares que não trocas
Que se revelam
Os mais extraordinários matizes.
É na suspensão dos sentimentos,
No adivinhar dos pensamentos ocultos
Que oiço mais nitidamente
O que me sussurras.
E amo os beijos que me não dás
Mais do que os outros
Porque há coisas que um homem não faz
Que encerram mais coragem de viver.
E quando não fazes amor comigo,
Te não entregas doce e violenta,
Há nessa suspensão
O amor prenhe de quem tenta.

O oculto mora em nós
E tem força e tem pujança,
E nada do que acontece
Lhe rouba
Um só átomo de importância!

Não venhas, meu amor.
Não irei.
E completaremos nosso halo
Com esta incompletude.
Viveremos inquietos e insasiáveis
Na nossa tranquila quietude.

jpv


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A menina do chapéu de palha

A menina do chapéu de palha

Entras nas pessoas
De mansinho,
Quase sem te anunciares,
Mas há um brilho e uma vida
Que transportas no olhar
E marcam com inquietação
A tua presença,
A tua intenção.
Baila em ti certa curiosidade
E uma insatisfação constante
Assim como se percebesses
Coisas ocultas,
pensamentos ausentes,
O que foi dito e o que ficou suspenso.

E vem contigo
Essa aura de contradição
Que é ver em ti a criança
E a mulher em tentação.
E a mais bela explicação de ti
É que não há palavras para explicar-te,
Saltitas pensamentos e versos,
Abalas crenças e convicções
Só porque uma vez sem exemplo,
Sem razão nem nada que o valha
Enfeitaste o mundo cinzento
Com a beleza de um chapéu de palha.

jpv


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Frei Fernando Ventura fala com serenidade e contundência dos tempos que vivemos. “A História dos jovens não se cruza com a memória dos mais velhos”, diz. “Vivemos a cultura do penacho”, acrescenta.

Obrigado, M, por teres mostrado.

Parte 1

Parte 2

Se não conseguir ver os vídeos, siga para aqui:
http://videos.sapo.pt/JoFz521LdtWURRpTF1YY