Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Da impunidade

Anda por aí uma expressão popular que vai dizendo “A justiça é cega mas a injustiça vê-se”. A expressão percebe-se, embora esteja incorrectamente formulada. A mim, há algo que me preocupa e impressiona mais do que a injustiça e que também resulta nela: a impunidade.

Nos dias que vivemos, nem os gestos, nem as palavras têm o mesmo valor de outros tempos. Estão banalizados ambos. Um levantar de dedo podia despertar lágrimas e uma expressão como “senta-te” tinha efeito. Isto passava-se entre miúdos, entre adultos e miúdos e, claro, entre adultos. Se uma pessoa insultar outra, nos dias que correm, chamando-lhe, por exemplo, desonesta, covarde, estúpida, parva, ladra ou o que quer que seja que lhe venha à cabeça, o mais certo é não passar-se nada. Nem nada daí advir. E já não vai sendo raro que tenha o insultado de desculpar-se por ter provocado a reacção do insultador! O mais longe a que se chega, depois de consultados muitos intervenientes e várias instâncias jurídicas é a um pedido de desculpas que, claro está, pode desculpar o insultador mas já não apaga o gesto. E isto acontece nas famílias, entre amigos, entre colegas de profissão, entre desconhecidos, fundamentadamente justificando-se o injustificável: é que cedência a cedência, permissão a permissão, banaliza-se esta violência verbal entre pares, torna-se uma rotina nas rotinas e emerge o que de pior há no ser humano. A sua baixeza. A sua indignidade. O carácter ignóbil de actos que devia reprimir em abono da convivência com os seus semelhantes. E, está provado, isto cresce. E a impunidade é terreno fértil para o seu crescimento. Há uma frase interessante que diz “Basta que os homens de bem nada façam para que o mal triunfe”. Pois acho que está na altura de os homens e as mulheres de bem fazerem alguma coisa.


1 Comentário

Sem medo, não. Com coragem, sim.

Numa linha comportamental muito adolescente, estava a trocar fotos com a TR como quem troca cromos do Sandokan e vai daí diz-me ela “Gosto muito daquela em que estás com um ar muito teen, o pé no ar, olha até lhe pus um título…” Não fosse a curiosidade matar-me, adiantei logo “Então e qual foi?” A resposta veio rápida e, se não estivéssemos ao telefone, tinha-a visto sorrir: “As aventuras de João Sem-Medo”.
Sem medo, não direi, embora quem me conheça saiba bem que, de facto, não costumo ter medo. Nem digo isto como uma forma de me gabar de ser temerário. Para mim, até pode ser uma doença. O facto é que não não costumo experienciar tal sentimento. Ainda assim, como todos nós, humanos, ele lá se manifesta uma ou outra vez e é nessas alturas que reparo que tenho sempre muita coragem na vida. Sei lá, pode ser a tal doença… E foi por isso que disse à TR “Sem medo, não. Com coragem, sim.”
Estava aqui a pensar se não serão sentimentos irmandos. Para que se manifeste um, preciso será que tenha havido o outro.