Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 26

20/8/2010 – 16:17h. – No avião (Atenas – Genebra)

Deixámos Atenas há 20 minutos. A descolagem foi suave. É um AirBus da SwissAir.

Lembrei-me de escrever só para registar que adoro aeroportos. E não tem nada a ver com estar de férias ou andar de avião ou o que quer que seja. Tem a ver com a multiplicidade cultural que aí se encontra. Estar num aeroporto é como não estar em país nenhum e estar em todos os países ao mesmo tempo. Almoçámos no aeroporto de Atenas. Foi muito interessante, mais uma vez, ouvir tanto linguajar diferente, tanto costume diferente. Nas roupas, nos gestos, nas malas, na forma como se espera, na ansiedade com que se pretende embarcar, na cor da pele, do cabelo, dos olhos. Se tudo correr bem, hoje durmo na minha cama. Na Zibreira! Acho que hoje até os cães vão dormir dentro de casa! Devem ter muito para contar. E nós também.
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Nota de vôo: nas diversas viagens que tenho feito, nunca me aconteceu isto. O comandante informou que o tempo estava de tal forma bom que quase todo o vôo, excepto a partir dos Alpes, seria feito com visibilidade para a terra. Estamos a 11000m de altitude e é possível ver o esquadrinhado das casas, das estradas, o verde dos lagos, o percurso irregular dos rios, o azul intenso do mar e as ilhas dispersas e perdidas nele. Sempre sem nuvens. O poeta tinha razão. Para além da nossa pequenez existencial, também fisicamente somos um “bicho da terra tão pequeno”.


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 25

19/8/2010 – 21:36h. – Atenas

Hoje foi dia de Acrópole. Estou no hotel e descanso.
Chegámos de Creta muito cedo, pelas 6h da manhã, largámos as malas no hotel, tomámos o pequeno-almoço e fomos revisitar a cidade sagrada. Logo às 8h. assistimos ao hastear da bandeira grega na Acrópole. É feito por oito soldados que a protegem armados até aos dentes. Quando terminam o processo, por volta das 8:30h, viram costas à bandeira e gritam “Bom-dia Atenas, bom-dia Grécia!”

Sempre que lá volto reencontro o mesmo poder, a mesma magnificência e encontro aspectos novos. É um conjunto arqueológico invulgar, com uma história invulgar, quer pelo aspecto que mantém, quer pela civilização que invoca. A visita ocupou-nos toda a manhã.

Passeámos toda a tarde e noite pelas ruas da cidade antiga. Não sei como é que isto acontece, mas no fim das férias as malas estão sempre mais cheias. Não sei como é que vai lá caber tudo. Será precisa muita engenharia de arrumação!

Tenho saudades de casa e… dos meus cães!


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 24

18/8/2010 – 22:01h. – A bordo do Lato

Já estamos a bordo do Lato no percurso de 8 horas de Creta para Atenas. Curiosamente, o mesmo navio que nos trouxe, vai levar-nos de volta.

O dia foi muito agradável. Pequeno-almoço memorável. Depois fizemos as malas e deixámo-las guardadas com a D. Antonia e passámos todo o dia na praia “quente e frio”. A água que chega das montanhas é mesmo gelada. Tão gelada quanto revigorante. Alugámos um chapéu e umas cadeiras de recostar mas não foram muito usados. Andámos todo o dia no mar. Escrevi imenso. Gosto de escrever de frente para o mar. Bem vistas as coisas, de frente para o mar tudo é melhor.

Como tínhamos comprado bilhetes com quarto, deixaram-nos entrar duas horas antes da partida, ou seja, às 19h. Foi óptimo porque pudemos tomar um banho retemperador, vestir roupas lavadas e ir lá acima ao exterior comprar jantar e ficar a comer numa mesinha de frente para o mar.

Agora só penso em descansar porque amanhã é dia de revisitar a Acrópole o que é sempre tão interessante quanto cansativo e, como tal, não me apetece ainda fazer balanços que deixarei para o fim. Mas, à medida que a ilha fica para trás, não posso deixar de reparar que um pouco de mim fica com ela. Não posso deixar de lembrar dois aspectos que emergem de todos os outros, que só por si teriam valido a pena: a extraordinária beleza Natural de Creta e as fabulosas pessoas que nela habitam. Penso voltar um dia, se conseguir. É quase como se fosse um tributo.
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Pormenor de atendimento: fomos ao restaurante dos grelhados no barco e pedimos três gyros. Aconteceu um diálogo tão hilariante quanto curioso:

– Desejamos três gyros, por favor.
– No pão ou no prato?
– No pão.
– No pão não temos, só no prato!


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 23

18/8/2010 – 8:03h. – Georgioupoli

O sol já resplandece em toda a ilha desde a montanha ao mar. Faz um calor envolvente mas não agressivo que vem das serras e é cortado a espaços por uma brisa fresca que vem do mar. Estamos a tomar o pequeno-almoço no nosso local favorito. Iogurte com mel e nozes, sumo de laranja, café, pão fresco, ovos cozidos, estrelados, bacon, doces e biscoitos. Coisa ligeira, portanto!
Não tenho escrito porque os últimos dias foram exclusivamente dedicados a descansar. Da cama para a mesa, da mesa para o mar, do mar para a mesa, da mesa para a cama, da cama para o mar, do mar para a mesa, da mesa para a cama. Tem sido este o círculo dos dias. Meu Deus, como precisava descansar! Tenho escrito imenso. “De Negro Vestida” avança a olhos vistos, em bom ritmo.

Ontem à noite jantámos de novo no restaurante Nostos. Foi o local onde fizemos mais refeições, quase diariamente. Tem uma qualidade soberba, pessoas de uma simpatia extrema e não é nada caro para aquilo que oferece. Ontem jantámos tzatziki com pão tostado, soutzoukakia, bolognesa cretense, gemistá (muito melhor do que a de Xaniá), duas coca-colas, uma água e uma garrafa de vinho retzina, No fim pediram-nos 28€. Quando acabei de pagar, trouxeram-nos um quarto de melancia partida aos bocadinhos, um prato com figos e três cálices de raki, um para mim, outro para o Iago e outro para o dono da casa! Ele bebe com todos os clientes. Não sei como aguenta! No fim vieram desejar-nos boa viagem para hoje com abraços e beijos e ofereceram-nos uma garrafa de água de litro e meio cheia de raki caseiro. O dono do restaurante e pai da família disse que o raki faz bem aos homens e fez um gesto com o braço bem conhecido de todos a indicar uma erecção. Fiquei a saber que além de uma aguardente que não arde, o raki também é um produto com efeitos terapêuticos! Ele que é careca e muito gorducho está sempre a dizer “O meu nome é Adonis, o deus da beleza” e faz um gesto para si mesmo como que para comprovarmos a dita beleza! Depois desata numa gargalhada e bebe mais um raki. Quando trouxe os figos perguntou-me se gostava. Eu disse que nem por isso mas que a minha mulher e o meu filho adoravam. Ele disse que aqueles figos eram das árvores deles e vai daí descascou um com as suas próprias mãos e foi com elas que mo enfiou pela boca abaixo. Eu comi e depois bebi mais um raki!
Hoje é dia de fazer as malas, usufruir da praia uma vez mais e apanhar o barco para Atenas ao princípio da noite.
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Nota hospitaleira: Nesta ilha fomos tratados um bocadinho além de turistas. Fomos verdadeiramente acolhidos e acarinhados. O Nostos é um exemplo disso. É um restaurante familiar onde trabalha o pai, Adonis, a mãe, Atena, a filha, Maria e o filho, Giorgis. Merecem ser visitados por quem venha a Creta. Também alugam quartos e têm um site que mora em http://www.river-side.gr

A Maria faz 18 anos em Outubro e vai para a universidade em Atenas estudar Fashion Design. Passa os verões no Nostos a servir à mesa com humildade e simpatia não obstante os seus sonhos. Tentou ensinar-nos mais algum grego… não sei se conseguimos aprender, ainda assim, cá vai: kalitichi, Maria! (felicidades, Maria!).

Nota Luís Lobo: tenho tentado não me lembrar do trabalho nem de nada, nem de ninguém relacionado com ele, mas não me esqueci de ir pedindo um pacote de açúcar a mais sempre que bebia café. São para a tua colecção. Só já falta a viagem de regresso e o avião não cair, hihihi!