Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 13

5/8/2010 – 13:29h. – Rethimno

Estamos na fortaleza de Rethimno, a terceira cidade de Creta. No túnel que lhe serve de entrada. Deve ser o único local fresco da cidade. Resolvi registar o momento porque nunca tinha presenciado o que aqui está a acontecer. Eu já ouvira o canto das cigarras outras vezes, na Grécia ouvem-se por todo o lado, mas nunca com esta intensidade e amplitude. O pátio interior da fortaleza está cheio de pinheiras, as cigarras instalam-se nelas aos milhares e cantam todas em uníssono pela hora do calor. É um som de tal forma intenso que, entre as árvores, as pessoas têm dificuldade em ouvir-se umas às outras.

A fortaleza tem uma vista belíssima para a cidade e para o mar. Chegámos de manhã bem cedo e andámos percorrendo as ruas. Tomámos o pequeno-almoço num bar que não é para turistas, entre velhotes que começam o dia com aguardente, vinho branco, pepino, azeitonas, tomate e, claro, queijo fetá.
Hoje era dia de mercado de rua. Visitámo-lo e não pude deixar de notar o quão semelhante é este mercado às feiras de rua que temos semanalmente pelas localidades do Ribatejo.

Aqui em Creta há o costume de fazer figuras com o pão. Pão em forma de pato, gato, golfinho, caracol e, o mais trabalhado, pão em forma de coroa de flores. Comemos um “pato”. Era bom. Mas, mesmo bom, era o pão com frutos secos.

Rethimno – porto interior

Rethimno – fortaleza

Rethimno – pátio interior da fortaleza

Rethimno – figuras em pão
Rethimno – vista da fortaleza
Rethimno


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Creta 2010 – Diário de Bordo – 12

3/8/2010 – 17:15h. – Georgioupoli

Acabámos de chegar. Hoje visitámos Xaniá. Saímos bem cedo de autocarro que é o transporte preferido pelos gregos e por isso o mais utilizado. Visitámos a igreja da cidade. Não me marcou como já tem acontecido com outros espaços religiosos. O que salta à vista e é o coração e o centro de toda esta cidade, a segunda maior de Creta, é o seu porto.
Há um porto exterior mais usado como marina para acolhimento de navios. Aí se destaca a extensa muralha por cima do mar até ao farol. E do farol tem-se uma vista lindíssima para o porto interior. Este está repleto de movimento com barcos com barcos com o fundo de vidro para observação da fauna marinha sempre a entrar e a sair carregados de turistas, lojas de recordações, decoração, livrarias, casas de café e restaurantes. Tudo num frenesim de oferta e procura com o intenso azul do mar como pano de fundo. Para trás da imensa meia-lua que é o porto interior fica um emaranhado de ruas pequeninas e estreitinhas com recantos, janelinhas e tabuletas de lojas com um traço típico e antigo. Algumas são tão estreitas que é possível, abrindo os braços, tocar ao mesmo tempo nos edifícios de ambos os lados da rua. E em todas estas ruinhas se abrem mais lojinhas, mais casas de café onde velhotes com o tempo todo pela frente bebem copos de água gelada e chávenas de café quente enquanto sorvem golfadas longas de cigarros suspensos em dedos rugosos e amarelecidos.

Visitámos o mercado e verificámos que o conceito é mais amplo que o nosso. Além do peixe, da carne e das frutas, eles têm pastelarias, bares, lojas de roupa, de cerâmica, de livros e, claro, casas de queijo. E têm também casas onde vendem mel e plantas apanhadas nas montanhas de Creta com as quais fazem chá. Neste mercado, os ruídos são idênticos aos nossos, mas os odores são mais intensos. e marcam mais fundo.

Hoje almocei “guémistá”. Eles cozem arroz com ervas aromáticas, depois recheiam tomates com esse arroz acrescentando ervas cruas, estufam os tomates recheados e servem com o maravilhoso tzatziki. É muito saboroso e não enche.
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Nota sobre costume grego 1: à medida que os dias passam, tenho vindo a reparar num costume muito próprio de Creta. Nos restaurantes quase não há oferta de sobremesa. Limitam-se a uns gelados e pronto. Primeiro estranhei, depois percebi porque era. Quando acabamos de comer, seja almoço ou jantar e pedimos a conta, eles trazem-na e, depois disso, o empregado ou o proprietário da casa trazem a sobremesa como oferta para mesa. É claro que não podemos escolher, mas é muito interessante reparar que eles fazem questão de trazer a conta para já não poderem alterá-la e assim evidenciarem que estão a fazer uma oferta. É mesmo uma atenção. Já nos ofereceram uma meloa descascada e partida, uma travessa com melancia, um gelado para cada um, um prato de figos e “Raki”que é uma aguardente tipicamente cretense que é suposto beber-se de “penalti” e cuja particularidade é não arder na garganta. Estes tipos não existem.

Nota sobre costume grego 2 (19:30): tinha acabado de escrever o comentário anterior e saímos à rua para comer um delicioso crepe com sumo de laranja natural no Eleanas Deli Bar onde somos sempre atendidos com extrema simpatia pelo Andreas. Tínhamos acabado e pedido a conta e ele veio oferecer-nos um prato com maçã cortada às fatias e um cacho de uvas. Disse-lhe que ele não existia por ser tão atencioso e ficámos conversando os dois sobre como é lamentável que as pessoas se estejam esquecendo de ser simpáticas umas com as outras. Ele defende esta simpatia como algo tipicamente cretense e eu tenho de concordar. “Efcharistós, Andreas” (Obrigado, Andreas).

Xaniá – recanto de rua
Xaniá – porto interior

Xaniá – farol

Xaniá – mercado

Xaniá – mercado

Xaniá – mercado