–Dentro da capelinha há umas imagens do santo que toda agente beija para depois se benzer. O benzer dos ortodoxos é um pouco diferente. Fazem um gesto cruzado, na diagonal, à frente do peito e ao terminar fazem um movimento como se atirassem alguma coisa para trás das costas.
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O que achei interessante foi o fervor dos jovens. Aqui em Creta, os adolescentes e as crianças assumem os rituais com devoção e fervor. Não têm nenhuma espécie de vergonha dos seus rituais, bem pelo contrário. Incorporam-nos no seu quotidiano. Por exemplo, não há qualquer espécie de relação entre ser-se jovem e não ligar às coisas da igreja “porque isso é para velhos”. Bem pelo contrário. É muito frequente ver-se uma moça jovem, muito arranjada com roupa próprias da sua idade, ou um rapaz com um ar mais “metálico” ou “dread”, ou um grupo de jovens a passar na rua todos na galhofa e, ao passarem por uma igreja benzem-se de forma séria e depois continuam como se nada fosse, alguns entram beijam o santo e seguem à vidinha. Isto não é uma coisa pontual. Presencio isto a toda hora aqui na ilha e já era assim em Atenas. Eles são desinibidos e ostensivos na forma como assumem os seus rituais.
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Quero registar outro aspecto. A genuína e exuberante simpatia dos cretenses. Não é uma coisa forçada, para turista ver. Eles são mesmo simpáticos e calorosos e desinibidamente tácteis. Já hoje, por duas vezes, pessoas que eu não conhecia de lado nenhum me deram uma palmada nas costas como forma de saudação e riram-se comigo. Eu sou assim e integrar-me-ia bem com esta gente, mas sei bem, por exemplo, o quanto me estranham em Portugal. Nós somos boa gente mas mais prudentes a ver no que a coisa dá, a dar tempo de conhecer as pessoas. Estes são mais espontâneos. Eu gosto das pessoas de riso fácil e franco. Os cretenses são assim.

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