Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Verdade Incontornável – II

Mas só o chapéu!!!


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O mundial deste país foi ao poste.

Quem me conhece sabe que eu, à semelhança de mais uns quantos portugueses, gosto muito de futebol. Quem não me conhece ficou agora a saber. Quem me conhece sabe também que gosto de pensar e escrever o que por si só não atesta a qualidade do pensamento e muito menos da escrita. Joga a meu favor a prática. E, por fim, quem me conhece sabe que eu gosto de ver a nossa selecção jogar bem e ganhar. Como é sabido de todos e já não só dos que me conhecem, hoje não vi uma coisa nem outra. E, garanto-vos, uma delas me bastaria, independentemente de qual fosse.

Escrevo estas linhas porque estou convicto de que aquela bola que o Cristiano Ronaldo atirou ao poste mudou o presente e o futuro próximo do nosso país. Se tivesse entrado, estávamos bem mais tramados do que estaremos. A nossa selecção está velha, usada, sem ritmo, cansada, sem ideias e, sejamos francos, é muito fraquinha, joga muito pouquinho. Está muito longe do que fez em 2004 e em 2006 e, sejamos de novo francos, pensar que passará a fase de grupos só para quem foi a Fátima no passado dia 13 de Maio e crê em milagres. Felizmente não passará!
Porquê felizmente? Ora não é óbvio!? Vejamos. Se a selecção nacional de futebol passasse a fase de grupos ou mesmo ganhasse um jogo, os prejuízos para a nação contribuinte e trabalhadora seriam incalculáveis. Se ganhasse o que quer que seja, o povão gastaria ainda mais acima do que pode e gastaria dinheiro emprestado pelos mesmos tipos a quem anda a pagar com acréscimo de impostos a má gestão política, financeira e estratégica da nação. Se ganhasse, muitas mais festanças haveria com excessos gastronómicos, já para não falar nas bebidas alcoólicas, com respectivas consequências na saúde de cada um e o enterrar definitivo da saúde pública em termos financeiros. Poderia mesmo haver mortes agora que o INEM já tem menos ambulâncias e helicópteros. De resto, para que é que a gente quer esses recursos se a malta ainda tem força para bufar na vuvuzela. E por falar em vuvuzela e saúde pública, se ganhasse, também na área otorrino haveria um inusitado acréscimo da despesa. Sempre com os mesmos inconscientes gastadores a pagar: a malta que paga religiosamente os impostos. Mas isto não é o mais grave. O mais grave é que, se a selecção ganhasse algum jogo ou passasse desta fase, a distracção que a euforia da vitória causava nas nossas pacatas gentes permitiria ao engenheiro Sócrates, devidamente coadjuvado por Teixeira dos Santos, espetar-nos com um PEC3 em cima e, pior do que isso, colocaria nas letras pequeninas do texto, as coisas que quer fazer mas ainda não foi capaz. Ora, enquanto a malta se distraía e depois voltava à vidinha, nos diversos sectores, far-se-iam pequenas e imperceptíveis mas danosas alterações legislativas. Coisas ao género do ME que, em período de férias, publicava documentos importantes. O outro ME. Este ainda não teve o ensejo. E a nossa sorte foi a bola ter ido ao poste. Desta maneira, voltaremos ao rame-rame quotidiano da labuta, concentrar-nos-emos rapidamente nos assuntos sérios e evitaremos que quaisquer avanços de subversiva intenção nos apanhem desprevenidos.
O nosso país é demasiado pequeno, não só geograficamente, para participar numa coisa que no nome tem a palavra mundial. Nós somos assim de amplitude mais distrital ou mesmo concelhia do mundo. E depois, como se vê pelo distinto seleccionador, somos uma raça esquisita. Ele é a relva que não presta, o vento que é forte, a chuva que é molhada, e até o diacho do adversário que quer a bola só para ele. Ora, se não temos estrutura para uma coisa mundial, o melhor é não nos distrairmos com ela. Quando o Cristiano chutou, se a bola tem entrado, a euforia tinha-se espalhado qual praga e o PM estava já esfregando as mãos de contente. A nossa sorte foram duas: uma, o capricho dos deuses e dos ventos e do destino e essas coisas todas que fez com que a esférica borracha fosse ao poste e voltasse para trás. Outra, o facto de o Mário Nogueira ter imediatamente consultado o Secretariado Nacional da FENPROF sobre a matéria tendo sido aconselhado a que se fizessem todos os esforços para que a gracinha se não repetisse não fosse a bola entrar. Fez-se uma extensa reunião com representantes da FPF, uns quantos telefonemas para a África do Sul e, como puderam presenciar, não houve mais bolas ao poste, nem tão pouco o risco do remate. Acredito que fizemos (SN) um favor ao país. Claro que vai já haver quem diga que queria que a selecção ganhasse e, como tal, muito haverá quem dirá mal da FENPROF. Mas desses há sempre quer a selecção ganhe ou perca, faça sol ou chuva, haja PEC ou não. Haverá mesmo um conjunto de cépticos que negará que os sindicalistas tenham feito alguma vez tal esforço de salvação dos pátrios destinos. Mas, para esses, teremos sempre as actas negociais a comprovar a veracidade das nossas boas acções!
O mundial deste país foi ao poste? Não faz mal, conquanto vamos marcando pontos cá dentro!
João Paulo Videira


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Verdade Incontornável

Não dá! Sem tirar…


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De Negro Vestida – XXVIII

 

Despertar – II

Voltou. Mas não foi já.
Não alteremos a ordem dos acontecimentos que é esse um abuso dos contadores de estórias. Um abuso e uma prepotência. Trazer os leitores perdidos procurando o fio à meada narrativa. Contemo-la onde ia. Quando a mulher se levantou para ir à casa-de-banho. Nessa altura estava o leitor curioso por saber se ela falaria com o homem de fato azul-escuro.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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De Negro Vestida – XXVII

 

Despertar – I

A verdade é que não nos conhecemos. Enfim, sabemos quem somos, como nos chamamos, que roupas gostamos de vestir e que comida preferimos comer mas, de tempos a tempos, surpreendemo-nos a nós próprios com um pensamento, uma frase, um gesto. Esta ignorância de nós, cristalizamo-la com expressões simples e vulgares do dia-a-dia que dizem pouco, parecem dizer pouco, mas que emanam esse inconfundível perfume de desconhecimento em relação àquilo de que somos capazes. E é por isso que estando, por vezes, a falar, os lábios e a língua e o céu da boca articulam sons que são palavras e podem elas dizer verdades que não esperávamos.
– Onde é que eu estava com a cabeça?
– Nem parece coisa minha!
– Como é que fui capaz?
– Nem acredito no que fiz!
E outras tantas e tantas mais ainda andam bailando nos lábios e no ar dizendo-nos que não nos conhecemos. Que não percebemos a origem de certos pensamentos em nós. De onde vêm sentimentos inesperados. Comportamentos inusitados. Palavras desabituadas.
A mulher de que vos contarei agora está vivendo um desses momentos.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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Um humor de crise.

Ultimamente tenho procurado muita coisa escrita e dita que me possa esclarecer os contornos da dita crise, se é que existe. Disso ainda ninguém me convenceu. Lá vou percebendo a conjura e quanto mais a conheço mais me convenço de que não há crise a não ser para alguns: os que a pagam. E convenço-me de outra coisa: interessa muito, a alguns, que haja uma ideia aterradora de crise.

Dito isto, vamos ao que interessa. Exceptuando alguns discursos e textos mais lúcidos, o que de mais interessante e esclarecedor (!!!) tenho encontrado sobre o assunto são textos humorísticos. O humor parece estar eivado de verdade e lucidez. É por isso que vos deixo um clip interessante, bem disposto, crítico, sarcástico, que só tenho pena não seja português. E a razão é simples. A nossa Língua tem uma riqueza semântica inultrapassável… e presta-se ao humor.


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Como é que diz que disse?

Caros leitores,

como sabem, este blogue é, fundamentalmente, um blogue de publicação de escritos provavelmente literários. Não é um blogue sobre Educação. Ainda assim, de quando em vez, não me coíbo de deixar aqui uma ou outra reflexão sobre alguns temas relacionados com a dita. Deve ser defeito de profissão. De professor, a profissão, não o defeito. Esse é meu. E hoje apeteceu-me fazê-lo mais como quem reage perplexo do que propriamente como quem comenta reflectidamente. E admito que haja bondade na medida sobre a qual vou pasmar já a seguir. E se a houver agradeço que algum leitor mais informado ma esclareça. Ora então vamos lá a pasmar: é mesmo verdade que um aluno que chumbe no oitavo ano pode passar para o décimo? É que nem a realização de exames pelo meio nem a sua comprovada veterania etária me convencem da bondade da coisa. Deixem-me aqui escrever um pensamento para quem quer que seja que o venha a ler: a realização de exames não substitui o processo de aprendizagem!!! Irra que é mouco! Já quanto à idade, eu percebo o constrangimento de ter jovens muito mais velhos do que outros nas turmas e também percebo que não é por muito insistir que se obtêm resultados mas, nesses casos, talvez o indicado fosse deixar o jovem viver, contactar com o mundo do trabalho, adquirir experiência e perspectiva e proporcionar-lhe uma oportunidade quando já tivesse mais estrutura para a aproveitar. Sei lá. Isto sou eu a pensar alto. Assim de repente soou-me àqueles prémios de carreira que se dão nas noites dos globos não sei de quê! Uma coisa do tipo. Não conseguiste? Passa a frente que isto é uma perda de tempo! Mais, falta ainda saber que tipo de exames seriam esses… Se forem como aqueles de aferição…
Bem, já destilei. Agora fico à espera de comentários. Ou não!

[Sobre este assunto leia também isto, isto e isto. Já agora, fica mais informado do que com os meus arrazoados. Este blogue chega a ser uma instituição de serviço público sens fins lucrativos!]

E, se lhe apetecer, ouça isto:


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De Negro Vestida: XXVI

 

Solidão – VII

Há entre nós, os humanos, independentemente da condição, da raça, do género, da cultura, da religião, da idade, da posição social, da estrutura financeira e do carácter, diversos impulsionadores de pensamento e acção. E há um, aquele que agora desperta em Maria de Lurdes, pouco valorizado, subestimado mesmo, mas que, em nossa opinião – que o leitor poderá aprovar ou rejeitar – é o mais importante de todos. Não escondendo a importância do dinheiro, não é dele que falamos. Reconhecendo o valor da educação, não é a ela que nos referimos. Nem à alimentação, nem ao sexo, nem à religião, nem à segurança, nem à solidariedade, nem à investigação, nem à saúde, nem à família, nem a nada que tenha um motivo. O móbil principal da acção humana é o saber a pouco. A insatisfação.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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