Mails para a minha Irmã

"Era uma vez um jovem vigoroso, com a alma espantada todos os dias com cada dia."


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Sentes que um tempo acabou

Estava aqui a fazer um trabalho para a minha escola que implicava seleccionar músicas. Uma puxa a outra e acabei dando de caras com a Balada de despedida do 5º Ano Jurídico de 1988/1989, ano em que fui finalista na FLUC. Mais uma buscazinha no Youtube e encontrei o vídeo da serenata em que a balada foi cantada. A imagem em muito mau estado mas, felizmente, com muito boa qualidade sonora. Eu estava entre aqueles milhares de estudantes e digo, com a falibilidade que a análise pode ter, que foi a mais extraordinária serenata de sempre. De ir às lágrimas esta revisitação!

Em homenagem aos colegas da Toada Coimbrã e num gesto de puro saudosismo aqui fica o vídeo e a letra que continua a dizer-me tanto.
Sentes que um tempo acabou
Primavera de flor adormecida,
Qualquer coisa que não volta que voou,
Que foi um rio, um ar, na tua vida.

E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p’rá vida.

Sabes que o desenho do adeus
É fogo que nos queima devagar,
E no lento cerrar dos olhos teus
Fica a esperança de um dia aqui voltar.

E levas em ti guardado
O choro de uma balada
Recordações do passado
O bater da velha cabra.

Capa negra de saudade
No momento da partida
Segredos desta cidade
Levo comigo p’rá vida.

Letra/Música: António Vicente // João Paulo Sousa / Rui Pedro Lucas


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Álbum para o meu primo Gabriel

Link ou ligação… para um álbum de fotos que coloquei no facebook. Trata-se de uma dedicatória a um primo meu que partilha comigo um gosto. E trata-se, também, de uma singela homenagem ao meu pai. Em breve colocarei aqui um texto mais elaborado sobre o assunto.
para já fica o link ou a ligação:


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O Céu a meus pés.

Viver no Ribatejo tem destas coisas: há de tudo um pouco. Até milagres. Esta manhã aconteceu-me algo miraculoso. O miúdo anda a estudar as noites inteiras. De manhã, antes de ir descansar gosta de desanuviar. Normalmente vamos dar uma voltinha pela serra, contemplar e descansar a alma. Outras vezes, vamos ver o mar. Hoje, por volta das 7h saímos para o pequeno-almoço mais o dito passeio. Resolvi arriscar por uns caminhos mais distantes e por umas estradas mais escusas. E que encontrámos? O que as imagens documentam. A prova provadinha de que há céu na terra! É preciso ser-se um tipo muito sortudo para viver a 30 minutos do céu. Pois se até Cristo levou três dias! Quem quiser saber exactamente onde fica o local é só perguntar via comentário ou mail. E por agora nada de mais palavras que as imagens falam por si!

“Despertar” “Um mar de céu”
“O céu a meus pés”
“Céu com terra ao fundo”
“Rolando nas nuvens”
“Quixote”
” ‘De Negro Vestida’ no céu”
“Revelação”


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De Negro Vestida – XXIX

 

Despertar – III

Maria de Lurdes gosta de ser a última da casa a ir deitar-se. Não sabe porque é que as coisas são assim. Sabe só que se sente melhor. No fundo, comporta-se como uma guardiã de templo que vigia enquanto os outros descansam. É sempre a última a deitar-se e a primeira a levantar-se. Por isso, quando os filhos recolheram aos seus quartos, esperou um pouco até que a poeira sonora do dia assentasse. E quando sentiu a casa tranquila, agarrou as calças que estava arranjando com uma mão por baixo e outra por cima, pousou-as cuidadosamente no assento de uma cadeirinha em frente da sua e levantou-se. Colocou uma mão ao fundo das costas como quem as ajuda a endireitar-se, fez um esgar de dor que era mais cansaço, olhou o tecto, respirou fundo e abandonou a marquise feita atelier. Comeu pouco. Fez a sua higiene de antes de deitar e foi dormir. Antes de adormecer, arrumou o dia seguinte na cabeça e relembrou-se o propósito de mudar. Cumpri-lo-ia.

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O Romance “De Negro Vestida” foi publicado, capítulo a capítulo, neste blogue, entre 26 de janeiro de 2010 e 22 de abril de 2011.

Agora que conhecerá outros voos, nomeadamente, a publicação em livro, deixamos aqui um excerto de cada capítulo e convidamos todos os amigos e leitores a adquirirem o livro.

Obrigado pela vossa dedicação.

Setembro de 2013

João Paulo Videira

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"A Maior Flor do Mundo" por José Saramago

Agradeço, desde já, a uma leitora deste cantinho e muito especial amiga, o ter-me revelado esta pérola.
De toda a narração realço uma frase genial:
“E se as histórias para crianças passassem a ser de leitura obrigatória para os adultos?”


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A prima nova

Eu habito um clã. Tem as características de qualquer clã. Para mim só é especial porque é o meu. São as minhas pessoas. E não fujo a esse sentido de posse.
Este fim-de-semana recebemos uma prima nova. Não, não é dessas primas novas que usam fralda e choram e fazem ó-ó em vez de dormir e chegaram numa chegonha que as trouxe de Paris de França. É mais velha. Sendo nova. Enamorou-se por um simpático e garboso encalhado do clã cujo principal mistério era, até ao momento, o de estar encalhado. E chegou. E é nova para nós. Não sei bem se é prima. Acho que não. Acontece, porém, que em Portugal os primos não são os únicos primos. Há este saudável hábito de chamar primo a pessoas que tenham uma relação familiar difusa, próxima mas distante, e quando não sabemos muito bem como as classificar, e vai disto, é prima. Ou primo. Para perceberem a coisa, esta prima nova, em abono da verdade, é namorada do filho dos pais do marido da irmã da minha mulher. Mais coisa, menos coisa.
É corajosa. No mesmo fim-de-semana conheceu 10 de nós mais o encalhado que ela já conhecia, mas fora de contexto. Chegou com graciosidade no olhar, simpatia no sorriso, delicadeza no andar, e uma fragilidade feita força que lhe atravessa o timbre feminino da voz. Chegou sabendo que quem chega há-de ocupar espaços e ter lugares e há-de passar a contar e chegou sabendo, também, que a olharíamos, que falaríamos com ela, perguntas, muitas perguntas, e que brincaríamos com ela, pequenas provocações, palavras ousadas a tentear a fibra da prima. E teve-a. A fibra. Aliás, estou a dar-me ao trabalho de escrever umas linhas sobre a prima nova por uma rzão simples. Quando acontecem estes momentos iniciáticos, estas primeiras fusões de afectos, as coisas podem correr melhor ou pior, mas, normalmente, perde-se a naturalidade. Ora, esta prima nova foi sempre singela e natural. Nunca se defendeu. Não quis marcar terrenos porque marcados estavam. E não ensaiou medições inúteis do que não é mensurável: o como estamos uns com os outros.
Esteve tão natural e tão integrada que nos arrancou a nossa naturalidade e genuinidade sem grande esforço. Quando se depediu de mim disse “Gostei muito de vos conhecer” e foi-lhe respondido “Nós também gostámos muito de te conhecer” mas o interessante é que não era bem isto o que eu estava sentindo. Era algo para além disto. Era algo mais parecido com “Ainda agora te conhecemos e parece que já te conhecemos há muito”. E foi esta harmonia a mais interessante de todas as coisas. Isso e o desencalhar do primo!
Eu, que percebo pouco de pessoas, arriscaria, acerca desta prima, uma paráfrase de um anúncio velhinho: veio para ficar e ficou mesmo!
Bem-vinda, prima.


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Verdade Incontornável – IV

O som do silêncio perante a pequenez e a impotência humanas.
Por vezes, quanto mais são as palavras e quanto mais alto são ditas, gritadas, mais o silêncio se ouve. Se apodera do espaço. E depois resta nada. Só a ausência de tudo. A imposição de coisa nenhuma. O vazio.


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Perda irreparável

Um dia um jornalista disse que José Saramago não tinha meio-termo nos sentimentos que despertava nas pessoas. Ou se gostava, ou não se gostava. Ou se era um leitor assíduo, ou recusava-se liminarmente a leitura. Eu leio Saramago desde que me conheço. Sempre li e sempre gostei. Antes do Nobel, durante o Nobel e depois do Nobel.

Não é o Nobel que interessa. O que interessa é o extraordinário património cultural, literário e humano que deixa como legado. Cada um fará a sua análise. Uns dirão umas coisas, outros dirão as coisas opostas. A mim, não me interessa nada disso. Fica-me só um sentimento de vazio, de perda irreparável de um homem que me deliciou a mente, me fez sentir mais gente, mais humano. De um homem que retratou a minha condição e a condição do meu povo de forma ímpar.
Estes dias disse a uma pessoa de família “Qual será o próximo livro do Saramago?” Parece que não será nenhum. Li, sem vaidade, só como constatação, todos os seus romances. Tenho um preferido, como toda a gente. É uma espécie de livrinho de revisitações. Chama-se “Levantado do Chão”. E como não haverá um próximo, é chegado o tempo das releituras!
Curiosamente, agora que faleceu, Saramago já está na minha mente, muito acima do chão dos homens. Está no lugar dos visionários, dos solidários, dos homens que estavam à frente dos outros. Perdeu-se um homem e um escritor ímpares. A obra, e ele através dela, perdurará para sempre.
Por ironia, numa fase em que estamos a ser agredidos pela subjugação do pensamento humano à finança e à tecnologia, numa fase em que a visibilidade se assume como um valor mais do que a honestidade e a integridade, parte de nós um símbolo da essência. Um símbolo daquilo por que temos de lutar.
Obrigado, José Saramago. A única coisa que me ocorre dizer-te é que o nosso povo seria um povo mais pobre se não tivesses existido. Resta-nos a sensibilidade e a inteligência para reerguer-te o propósito todos os dias. Assim tenhamos a coragem.
João Paulo Videira


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Verdade Incontornável – III

Como se de água se tratasse.
Para todos os gostos!
E a música? Já repararam na música? Ai não? Então porquê?


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O 25 de Abril a 26!

Um dia, ainda inicio aqui um espaço chamado “No país do faz-de-conta”. Não sei porquê, ou talvez saiba, anda-me a apetecer. O ridículo a que se chega é tamanho e tão bacoco que até apetece zurzir.

Não é que tenha particular prazer em zurzir, é que há gente que se põe mesmo a jeito.

Vem isto a propósito de uma notícia que li hoje no JN online. Diz-se lá que os “Socialistas querem acabar com quatro feriados e eliminar ‘pontes'”.

Acaba-se a maioria dos feriados civis e religiosos e transferem-se feriados que sucedam à quinta-feira e à terça-feira para a segunda com o intuito de pôr fim às ditas “pontes”.

Se, por um lado, me irrita e fere a amputação cultural que a medida pode significar, por outro, não vejo que o país vá produzir em dois ou três dias por ano aquilo que não produz no ano inteiro. Portugal está, a meu ver, modesto e humilde, a optar por políticas suicidas e salazarentas de empurrar as coroas para baixo do colchão e esquece que a única forma de superar as dificuldades que enfrentamos consiste na revitalização dos mercados, na produção, na valorização do trabalho. Admito, sempre o disse, que seja necessário poupar em determinadas áreas, mas parece-me mais importante produzir.

Fica-me um último pensamento, o mais importante na minha muito pessoal hierarquia de ver as coisas. É que não só não acredito na eficácia da medida, não só repudio as consequências culturais, como, sobretudo, me enoja esta política de faz de conta, estas medidas de fazer ver aos senhores estrangeiros lá de fora que perpetuam os mesmos incompetentes nos mesmos cargos. Caros amigos, alguém tem de dizer isto: são os mesmos tipos que diversas e variadas vezes adormecem na AR, os mesmos tipos que desertificam o local de trabalho, os mesmos que praticam gestões danosas, os mesmos que compram submarinos para combater inimigos fantasma, os mesmos que compram aviões a jacto e carros de luxo em época de crise, os mesmos que são dos mais bem pagos do mundo para fazer pouco e mal, que nos dizem a nós, que trabalhamos diariamente com dedicação e zelo, que pagamos religiosamente os nossos impostos que eles, entretanto, aumentaram, que temos de sacrificar alguns oásis de descanso ao longo do ano.

Mas há mais, a notícia termina assim: “Pode, por isso acontecer que o 25 de Abril possa ser comemorado, por exemplo, a 26. ‘O importante é que se comemore a Liberdade e não o dia exacto’, justificou Ricardo Rodrigues.” Apetece-me replicar, então, se não interessa o dia, juntem todos os feriados num dia aleatório, por exemplo, num domingo de Páscoa, e comemoramos tudo ao mesmo tempo! O que importa é o espírito com que se comemora! Ora, ide-vos educar e instruir, senhores que ditais as leis! O tempo da acção humana é marcado por fases e patamares e estágios e estes têm momentos específicos e acontece que alguns desses momentos são de sintonia cultural, humana, fraterna, solidária e religiosa, e acontece que a data importa porque representa o momento em que as nossas vidas ficaram marcadas porque mudaram em razão do acontecido. Não perceber isto é entrar na política do vale tudo, na política do venda-se Portugal e a sua Cultura e a sua Língua que o rei é outro e outra é a nação. Europeia, para uns, global, para outros. Pois, meus senhores, percebam ou não, aquilo de que vos falo não é mutável. E é por isso que o vosso ridículo pode estender-se até onde quiserdes mas o 25 de Abril será sempre a 25. Jamais a 26!
João Paulo Videira